China: o fracasso como fonte do sucesso
Vamos direto à ferida.
O grande problema econômico
chinês é a gestão da economia feita por Pequim. Mas também é sua grande
vantagem competitiva.
Nós, brasileiros, deveríamos rir
até chorar…
Imaginem os chineses crescendo 7%
ao ano e reclamando da política econômica de seus governantes.
Enxergamos muitos paralelos entre
o que a China foi capaz de construir em sua economia e o que o governo
atual imaginava ser possível aqui no Brasil.
A grande (enorme) diferença é que
os governantes de lá mostram uma competência muito maior do que os nossos.
Claro que existem problemas, mas se o histórico de crescimento dos últimos
20 anos do gigante asiático for observado, eles estão em boas mãos.
No entanto, antes de confiar na
capacidade da liderança chinesa de tirá-los do "atoleiro", vamos
clarear alguns pontos.
O fracasso é a fonte do sucesso
Parece que o pânico está tomando
conta dos mercados globais.
Mas os mercados de ações chineses
são relativamente desimportantes para a economia local.
Aproximadamente 80% dos
investidores em ações por lá são pessoa físicas. Sem fundamentos, compram
por impulso e vendem por medo. Isso, obviamente, acaba amplificando os
movimentos.
Uma maior presença de
investidores institucionais daria uma maior estabilidade para as ações
chinesas.
Lembrando que a renda fixa da
China impõe perdas a seus investidores e é bastante difícil aos locais
investir em ativos offshore.
Claro que podemos tirar algumas
conclusões olhando os movimentos locais, mas não podemos superestimar seus
efeitos sobre a economia real.
Podemos então imaginar que os
mercados por lá sejam bastante voláteis. É o que estamos vendo neste início
de ano.
Como a distância testa a força do
cavalo, só o tempo revela o real caráter de uma pessoa.
Os mercados chineses sofreram o
resultado da mesma injeção de capital que as companhias de infraestrutura.
Muitos projetos prontos estão
vazios mostrando claramente como o ímpeto de construção estatal foi longe
demais.
O Banco Central chinês vem
injetando doses cavalares de crédito diretamente na veia de companhias de
infraestrutura estatais e outras bem conectadas com o partido no poder.
Qualquer semelhança com o que o
BNDES faz aqui no Brasil não foi intencional.
Logo, muito do que aconteceu no
mercado chinês e em sua própria economia foi devido à injeção de capital
barato. Uma hora a festa teria que acabar.
Podemos então ter o estouro de
uma bolha de crédito na China.
Isso nos leva ao próximo ponto
importante.
Eventos vindouros projetam sombra
à sua frente
Os bancos são responsáveis por
aproximadamente 55% do índice HSI, da Bolsa de Hong Kong.
Se existe uma bolha de dívida na
China, os mais expostos ao seu estouro são os bancos locais.
A maioria é estatal e,
claramente, está mais preocupado em manter outras estatais vivas que em ter
um retorno interessante sobre seu capital.
A China sempre usou seus bancos
como ferramentas de política econômica. Ideia que foi também utilizada por
nossos geniais governantes por aqui.
O problema é que lá os bancos não
são rentáveis como os nossos e negociam a múltiplos até menores do que os
brasileiros.
É fácil encontrar 1.000 soldados
mas difícil encontrar 1 só general
O problema principal no gigante
asiático é que o benefício de uma mão de obra barata no país está acabando.
O governo procurou desvalorizar o
yuan neste início de ano justamente para elevar a competitividade de sua
indústria. Mas ao invés de elevar a confiança dos investidores locais, o
movimento teve resultado contrário.
Já em 2013, o Governo chinês
anunciou um pacote de reformas e vem implementando essas mudanças
econômicas.
A recondução de foco na economia,
da construção civil e indústria pesada para os serviços, é desejável tanto
localmente quanto no exterior.
É aqui que os governantes querem
trabalhar.
A economia chinesa precisa se
libertar dos pesados controles estatais para despertar o espírito animal
dos capitalistas locais.
As estatais zumbis precisam ser
refreadas. Os sistemas de previdência social, de assistência médica e de
impostos precisam ser reformados e fortalecidos.
Uma melhor regulamentação
ambiental é crucial.
Um buraco pequeno não tapado pode
se tornar um buraco gigante muito mais difícil de consertar
A demanda está em queda, inflação
em baixa e dívidas crescendo.
A confiança nos números de
crescimento chinês impactam diretamente a confiança na capacidade de
pagamento dos atores locais.
A dívida do governo equivale a
somente 55% do PIB - o Brasil está em 66% aproximadamente. EUA está em 89%
e Japão em 234%. Mas o problema é (como no Brasil) o crescimento desta
dívida.
A dívida de empresas não
financeiras chinesas cresceu de 72% para 125% do PIB desde 2007.
O contínuo aumento de estímulos
econômicos permitiu que siderúrgicas e mineradoras improdutivas
continuassem operando.
Vemos os impactos diretos destas
políticas no setor siderúrgico e de mineração global, e também nas empresas
brasileiras.
A péssima alocação de capital
pelo estado nos últimos anos e a manutenção de empresas zumbis improdutivas
puxa para baixo a produtividade da economia como um todo.
A China precisa deixar que suas
companhias fantasmas quebrem e que o capitalismo comece a irrigar sua
economia. Uma questão de eficiência.
Um pé perfeito não tem medo de um
sapato torto
Como vemos no Brasil, é difícil
alcançar isso rapidamente.
Mas certamente o governo chinês
tem maior credibilidade que o nosso em conseguir realizar reformas e buscar
consenso. Isso já é de grande ajuda.
Os estímulos econômicos são
apenas uma muleta até que a economia consiga novamente parar de pé sozinha.
Mas o crescimento global está em
retração há alguns anos.
Claro que a injeção de capital
por parte do PBOC na economia é só uma medida paliativa. O que fará o
gigante ressurgir das cinzas são as reformas econômicas.
Ao contrário do que nosso Governo
faz por aqui, por lá vemos mudanças acontecendo.
O fator determinante para a China
continuar caminhando para se transformar na maior economia do mundo é a
velocidade das reformas.
A economia precisa retomar o
fôlego antes que o caixa do governo seja exaurido.
Na falta de reformas, a China
está fadada à mesma estagnação de economia de renda média que o Brasil se
encontra desde os anos 70.
A corrida já começou.
Fonte: Bruce Barbosa – Resenha Empiricus
|
Nenhum comentário:
Postar um comentário