Pretextando a necessidade de promover um rodízio, a presidente Dilma Rousseff decidiu trocar o líder do governo no Senado: sai Romero Jucá (RR), e entra Eduardo Braga (AM). Os dois são do PMDB. A mudança foi negociada com Renan Calheiros (AL), líder do partido na Casa. A decisão é reflexo da rejeição do nome de Bernardo Figueiredo, que não conseguiu ser reconduzido, conforme queria Dilma, para a diretoria geral da ANTT (Agência Nacional de Transportes Terrestres).
Descontentes com o governo, os peemedebistas decidiram mandar um recado à presidente. O senador Lindberg Farias (PT-RJ), por exemplo, passou a acusar Jucá abertamente de ter comandado a recusa.
Jucá é do grupo de José Sarney e Renan. O trio manda no partido. Mas há uma fatia que resiste a essa liderança. Braga, em tese ao menos, dialoga com todos os grupos. A troca também vai permitir que Dilma tire da liderança do governo na Câmara o deputado Candido Vaccarezza (PT-SP), que nunca foi do seu agrado, é bom deixar claro. Ele já protagonizou algumas trapalhadas fomridáveis. Só está no cargo porque se articulou para ser presidente da Câmara e acabou atropelado por Marco Maia (RS), que resolveu fazer um discurso contra a hegemonia dos paulistas e coisa e tal. Como prêmio de consolação, Vaccarezza levou a liderança do governo na Câmara, mas nunca disse a que veio.
Dilma tenta mexer nessas peças para ver se melhora sua articulação no Congresso, mas está difícil. Não tem quem faça o trabalho de costura política. Ideli Salvatti (Relações Institucionais) é o desastre que dela se esperava. Nem os peixes assistiram ao milagre da multiplicação da competência de Ideli. Gleisi Hoffmann é disciplinada, mas não tem trânsito.
A natureza da crise. É preciso que se caracterize a natureza da crise para que ela não seja tomada por aquilo que não é. A turma de Dilma está plantando loucamente na imprensa que a presidente está num braço-de-ferro contra a ala fisiológica do PMDB, que estaria sempre querendo mais e mais. Como a Soberana é muito ética, durona mesmo, e gosta de tudo certinho, então sobreviria o conflito…
É…
Não é bem assim. O PMDB que está aí não é menos ético do que sempre foi. Jucá, aliás, que deixa a liderança, exerceu este mesmo cargo no governo… FHC!!! Em 2003, primeiro ano do governo Lula, ainda era… oposição! Depois foi virando…O partido é o de sempre. O que mudou?
Já expliquei aqui: Dilma é ruim de taco. O governo não decola. As coisas não acontecem. Os peemedebistas que estão na máquina precisam da “fazeção” para que possam atender à sua enorme clientela política, especialmente em ano eleitoral. Áreas como saúde e educação, nas mãos de petistas, concentram mais as ações de propaganda do governo, passando a impressão de operosidade. O PMDB se sente dando os votos de que Dilma precisa no Congresso, mas sem receber nada em troca, diz. E esse negócio de “nada em troca” contraria a leitura cínica da ética franciscana dos peemedebistas: “É dando que se recebe”.
Dilma dá o troco para demonstrar que não se sente refém do PMDB. Vamos ver. Duvido um pouco que mude alguma coisa na qualidade da articulação.
Reinaldo Azevedo
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