Conflito agrário cresce no 1º ano do
governo Dilma
O primeiro ano do governo Dilma Rousseff registrou aumento de
15% no número de conflitos agrários no País, que passou de 1.186 em 2010 para
1.363 em 2011. Ao contrário de anos anteriores, quando a maior parte dos
confrontos derivava de ações radicais de trabalhadores, só 280 desses conflitos
foram causados por invasões de sem-terra. Um total de 638 litígios - mais de 60%
da estatística global - foi provocado pela iniciativa privada, em ações de
despejo, expulsões, destruição de bens e ameaças de pistoleiros.
Os dados fazem parte do anuário da violência no campo,
divulgado nesta segunda-feira pela Comissão Pastoral da Terra (CPT), vinculada à
igreja católica. Para o secretário-geral da Conferência Nacional dos Bispos do
Brasil (CNBB), dom Leonardo Steiner, esse quadro deriva do 'modelo equivocado de
desenvolvimento' do governo federal, que prioriza o agronegócio e obras que
exercem pressão sobre as terras ocupadas por indígenas, quilombolas, pescadores
e populações tradicionais.
Ele defendeu o veto ao texto do Código Florestal, aprovado pela
Câmara e a retomada da proposta anterior, aprovada no Senado, além da aprovação
da Lei que agrava punições ao trabalho escravo e mudanças no Programa de
Aceleração do Crescimento (PAC) para reduzir a pressão sobre as terras ocupadas
por comunidades tradicionais. 'Os grandes empreendimentos, todo esse modo de
centrar o lucro na exportação de produtos do campo, vai criando cada vez mais
conflitos sobre aqueles que já moram na terra e vivem dela', enfatizou.
O dado positivo do anuário é que o número de mortes em
decorrência desses conflitos caiu de 34 em 2010 para 29 em 2011. Entre as
vítimas, 11 já haviam recebido ameaça de morte, como foi o caso do casal de
extrativistas José Cláudio e Maria do Espírito Santo, emboscados e assassinados
a tiros em maio de 2011 e do cacique guarani kaiowá Nísio Gomes, executado
dentro da aldeia, na presença do filho, em novembro passado, no Mato Grosso do
Sul. O corpo do líder indígena foi levado por jagunços e até agora não foi
localizado.
Conforme a estatística, o número de ameaçados subiu de 125 para
347 no período - aumento de 177,6%. O total de agredidos também aumentou muito
(138,9%), passando de 90 para 215. Em 2011, foram registradas 38 tentativas de
assassinato, enquanto 215 trabalhadores foram agredidos e outros 89 acabaram
presos.
O lançamento do anuário, realizado na CNBB, contou com a
participação do índio Valmir Kaiowá, que presenciou a morte do pai, Nísio,
dentro da área reclamada pela comunidade e da agricultora Laísa Santos Sampaio,
irmã de Maria, assassinada junto com o marido numa emboscada no Pará. Estiveram
também presentes o conselheiro permanente da CPT, dom Tomás Balduino e o
presidente da Comissão para o Serviço da Caridade, da Justiça e da Paz, dom
Guilherme Werlang.
Fonte: msn
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