O mundo caminha rumo à ‘insustentabilidade’
Segundo relatório do Pnuma, de 90 metas internacionais para o meio ambiente, apenas quatro tiveram avanços significativos
RIO - O mundo está acelerando numa direção ‘insustentável’ apesar dos mais de 500 acordos internacionais que tem como foco o desenvolvimento sustentável e o aumento do bem estar humano. Esta foi a conclusão da quinta edição do Panorama Ambiental Global (GEO-5), que será apresentado nesta quarta-feira, no Rio, pelo diretor-executivo do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma), Achim Steiner. O documento envolveu cerca de 600 especialistas em meio ambiente ao longo de três anos e está sendo lançado simultaneamente em dez cidades mundo afora.
Lançado às vésperas da Conferências das Nações Unidas sobre o Desenvolvimento Sustentável (Rio+20), o relatório avaliou 90 das principais metas ambientais no mundo e descobriu que apenas quatro tiveram avanços significativos. Além disso, houve “algum avanço” em 40 metas; pouco ou nenhum avanço em 24; retrocesso em oito; e em 14, a avaliação ficou comprometida devido à falta de dados. Com base nos tratados internacionais, o GEO-5 avaliou o progresso alcançado nos principais objetivos das áreas de água, solo, biodiversidade, atmosfera, produtos químicos e resíduos.
O documento alerta que “se a humanidade não mudar urgentemente o seu rumo, os limites críticos podem ser ultrapassados, e isto pode ocasionar em mudanças repentinas e irreversíveis à vida no planeta”. Ele ressalta que “a Rio+20 traz a oportunidade de avaliar as conquistas e deficiências, além de estimular respostas globais revolucionárias”.
As quatro metas que avançaram foram: a eliminação da produção e uso de substâncias que destroem a camada de ozônio, a remoção do chumbo de combustíveis, o aumento do acesso à água potável e o fomento de pesquisas para reduzir a poluição do ambiente marinho. Entre os acordos que tiveram retrocesso, estão os relacionados a mudanças climáticas, desertificação, seca e manutenção dos recifes de coral no mundo.
Desmatamento da Amazônia é exemplo de sucesso
A falta de estatísticas é um dos empecilhos à medição dos avanços em várias áreas. O GEO-5 citou como exemplo ser “impossível avaliar as tendências globais da poluição de água doce por causa dos dados inadequados”. Índices nacionais sobre meio ambiente poderiam colocar o tema entre as prioridades das políticas públicas, apontou o relatório. Além disso, o GEO-5 ressalta que quando acordos internacionais estabelecem alvos mensuráveis há progressos consideráveis.
Poucos objetivos ambientais internacionais incorporam tais metas. Aquelas que o fazem são: as metas do Objetivo 7 de Desenvolvimento do Milênio de reduzir pela metade o número de pessoas sem acesso a água potável segura e saneamento básico; a Meta 11 de Aichi para a Biodiversidade de conservar até 2020 pelo menos 17% de áreas terrestres e águas interiores e 10% das áreas marinhas e costeiras.
O GEO-5 também apresenta as políticas bem sucedidas que os países podem adaptar e implementar a fim de acelerar a consecução das metas acordadas a nível internacional. A redução do desmatamento da Amazônia foi citado como um dos exemplos de sucesso. Entre 2004 e 2011, a destruição da região foi de 25 mil quilômetros quadrados de para cinco mil quilômetros quadrados, e coincidiu com a implementação de políticas públicas, como o monitoramento e a criação de áreas de proteção.
O relatório ainda ressalta que houve pouco avanço nas metas de mudanças climáticas e poluição do ar. Análises independentes mostraram que a última década (2000-2009) foi a mais quente já registrada, e 2010 teve o maior índice de emissões gerados de combustíveis fósseis.
Ainda segundo o documento, “o mundo fracassou em alcançar os alvos do Objetivos de Desenvolvimento do Milênio (ODM), com a redução significativa das perdas da biodiversidade em 2010”.
Das 30 metas relacionadas à água, apenas um delas, o aumento do acesso à água potável, teve avanço significativo, e mesmo assim, foi pouco efetivo em áreas rurais. Sobre a prevenção e controle da poluição marinha, quase nenhum objetivo foi atingido.
Segundo o GEO-5, o número de enchentes e secas cresceram cerca de 230% e 38%, respectivamente, entre a década de 1980 e 2000, enquanto que o número de pessoas expostas às enchentes aumentou 114%. Estima-se que o custo das adaptações às mudanças climáticas será em torno de 26 bilhões e 89 bilhões de dólares na década de 2040.
Com relação à terra, houve redução no desmatamento a nível global: a perda anual das florestas diminuiu de 16 milhões de hectares na década de 1990 para aproximadamente 13 milhões de hectares em 2010. Também foi avaliado como positivo o alcance de metas relativas a produtos químicos e resíduos, principalmente com relação a ações de coleta de lixo eletrônico e químico.
Flávia Milhorance
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