Dilma vive o Dia da Marmota. Ou: A chuva não é culpa dos governos, mas a incúria é!
O governo Dilma vive o Dia da Marmota. Volta sempre ao mesmo. Parece que foi ontem, não é? E quase foi! Em janeiro do ano passado, dada a tragédia absurda na Região Serrana do Rio — menos de um ano depois da tragédia também absurda do Morro do Bumba, em Niterói —, o Palácio do Planalto anunciou a tal força-tarefa contra as chuvas. Neste 9 de janeiro de 2012, com Rio, Minas e Espírito Santo a enfrentar o caos das chuvas, eis que o enroladíssimo ministro Fernando Bezerra (Integração) anuncia, absurdamente, a criação de uma… força tarefa! Chamem Ionesco!
Atenção! O céu não desaba por culpa do governo, pouco importa o partido. Seria uma tolice — coisas que petistas fazem quando estão na oposição, e eu não sou petista — atribuir à administração de turno a responsabilidade pelas moradias em áreas de risco. Há um conjunto de fatores que concorre pra isso, inclusive as escolhas das pessoas, sim! É preciso parar com a tolice de achar que casas nascem no sopé dos morros. Foram construídas lá. Sigamos. Os governos, petistas ou de outro partido qualquer, não são culpados por todo o mal que colhe os indivíduos. Mas são, sim, responsáveis pelas promessas que fazem. Mais: têm de responder pelas tarefas que deixam de cumprir.
Nesse sentido, o governo Dilma é uma lástima, eventualmente superada, em escala regional, pela administração de Sérgio Cabral, no Rio. Mas ambos são, inegavelmente, muito bons de marketing. Se chove demais, a culpa é de São Pedro. Se as obras prometidas não são executadas, como se constata na região serrana do Rio, então a culpa é mesmo dos governantes, entenderam?
Como absurdo pouco é bobagem, em Campos (RJ), um trecho da Rodovia 356, que é federal, funciona como um dique de contenção das águas do rio Muriaé. Pois bem: a enchente destruiu uma parte da estrada pelo terceiro ano consecutivo, o que obrigou a retirada de 4 mil pessoas de uma região chamada Três Vendas. Pode-se dizer da estrada qualquer coisa, menos que foi construída de modo adequado. O governo Dilma não pode ser responsabilizado pela enchente, é evidente, mas é culpado de manter uma estrada em condições que estão em desacordo com as exigências da natureza. O que se vai fazer desta vez? Torrar mais alguns milhões para consertar o trecho da estrada, que será destruído de novo em 2013? Rezar para que, no ano que vem, chova menos?
O desastre reiterado da chuva — previsto no calendário da natureza desde tempos imemoriais — expõe de modo dramático a precariedade da administração pública brasileira. Olhem para o Ministério da Integração, conduzido por este incrível Fernando Bezerra. Nada menos de 90% das verbas destinadas à prevenção foram liberadas para seu estado, Pernambuco. A pasta se transformou num feudo do PSB, partido chefiado por Eduardo Campos, governador do Estado, que vai se transformando no Aécio Neves que deu certo da política — esse “dar certo”, entenda-se, refere-se a esse padrão rebaixado de gestão que caracteriza o país.
Os ministérios são entregues de porteira fechada aos partidos, que os transformam em feudos. Atendidas as exigências dos correligionários, o titular da pasta tem como prioridade seguinte dar atendimento especial à sua base eleitoral. Assim, instâncias do Estado brasileiro vão sendo privatizadas por grupos políticos, que usam o dinheiro público para reforçar seus aparelhos partidários e seus esquemas de poder.
E quem denuncia o desmando? Caberia, por exemplo, à oposição fazê-lo, mas sabem como é… Minas é hoje o estado mais castigado pelas chuvas. O tucano Antonio Anastasia, governador, teria a autoridade que lhe confere o eleitorado para cobrar, por exemplo, mais responsabilidade e equanimidade do governo federal na liberação das verbas. Mas preferiu não fazê-lo. Afinal, o PSB é seu aliado no estado… Qual é a conseqüência prática dessas posturas? O contínuo rebaixamento do padrão de gestão.
Antecipo aqui algumas informações aos nossos governantes. Em 2013, vai chover bastante. Haverá enchentes. Na região serrana do Rio, haverá desabamentos. O rio Muriaé vai forçar o dique (santo Deus!) da Rodovia 356. Casas penduradas em morros vão cair; outras, construídas no sopé, sem que o poder público tenha movido uma palha para impedir, serão soterradas… São Pedro é aborrecido. Ele conta com os homens para fazer a coisa certa.
Não obstante, Dilma continuará a lotear o governo, entregando ministérios de porteira fechada aos aliados, e os ministros continuarão a usar a estrutura do estado para atender ao seu arraial. O Palácio fará saber que a presidente deu uma bronca severa neste ou naquele ministros. E muitos dirão: “Essa presidente é mesmo danada! Demite seis ministros que ela mesma nomeou por suspeita de corrupção e ainda diz aos que ficam: ‘Trabalhem!’ Que mulher operosa!”
Dilma foi eleita por setores da imprensa a ombudsman do governo… Dilma!
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