sexta-feira, 18 de abril de 2014

ALGUÉM VIU MEU PAI?

Ano de 1972, numa tarde, não sei de qual o dia da semana, e nem o mês; eu, com oito anos de idade.

Meu pai, conhecido jornaleiro no Mercado Central, chega à nossa modesta casinha de palha e chão batido de barro vermelho, na Rua da Mangueira, Bairro do Tirirical [hoje, São Cristóvão]. Fala muito rápido com minha mãe e, em seguida, abraça-me e me dá um beijo no rosto, como era o seu intenso hábito comigo [eu era o xodó dele, daí o meu nome, que também era o dele].

Disse-me:Toninho (como carinhosamente me chamava), eu vou, mas eu volto para ficar com meu filho, e chorou; eu vi suas lágrimas, que molharam meu rosto de uma criança já enfrentando tantas outras agruras da vida.

Ele me disse que ia de trem buscar "umas coisas" que a tia dele , que havia morrido, deixou em seu nome, lá no interior do Ceará (também não sei qual a cidade).

Recordo que chorei com ele, e como ele. Só nós dois vimos as nossas lágrimas naquela triste tarde de uma despedida, que não teve volta, nunca mais.

Fiz um infantil pedido ao meu pai: Que sentasse ao lado da janela, no TREM, para que eu pudesse bater com a mão para ele, logo as 5 horas da manhã do outro dia, pois, do quintalzinho de nossa casa dava para ver o trem passar todos os dias, uma vez que ficava à beira da Estrada de Ferro, no km 9.

Ele, beijando-me novamente, e soluçando no seu choro contido, me prometeu que bateria com a mão para mim.

Naquela distante, porém, inesquecível noite, não dormi. E a minha mãe compreendia muito bem o meu desassossego de criança: Eu era muito agarrado ao meu velho pai. Era o seu companheiro de trabalho no Mercado Central, desde as 4 da manhã, diariamente, vendendo jornais, para sobreviver com os demais irmãos, a maioria com menos idade que eu.

Tristezas e alegrias se juntaram quando ouvi a buzina do TREM.

O Trem passou, eu não vi meu pai, e nunca mais ele não voltou!!

2 comentários:

Unknown disse...

Faço parte dessa História que a vida me ensinou a superar com os belíssimos exemplos de perseverança da minha mãe, a dedicação de meus irmãos no cuidado conosco e a busca constante por dias melhores, incentivando-me a buscar melhorias no meio viver, sendo útil ao meu próximo.

Anônimo disse...

Esse comentário é de meu pai Roberto Cabral

Enquanto houver Democracia, o Judiciário é a esperança

                                                                                                                                            ...