Ano de 1972, numa tarde, não sei de qual o dia
da semana, e nem o mês; eu, com oito anos de idade.
Meu pai, conhecido jornaleiro no Mercado
Central, chega à nossa modesta casinha de palha e chão batido de barro
vermelho, na Rua da Mangueira, Bairro do Tirirical
[hoje, São Cristóvão]. Fala muito rápido com minha mãe e, em seguida,
abraça-me e me dá um beijo no rosto, como era o seu intenso hábito comigo [eu
era o xodó dele, daí o meu nome, que também era o dele].
Disse-me:Toninho (como carinhosamente me chamava),
eu vou, mas eu volto para ficar com meu filho, e chorou; eu vi suas lágrimas,
que molharam meu rosto de uma criança já enfrentando tantas outras agruras da
vida.
Ele me disse que ia de trem buscar "umas
coisas" que a tia dele , que havia morrido, deixou em seu nome, lá no
interior do Ceará (também não sei qual a cidade).
Recordo que chorei com ele, e como ele. Só nós dois
vimos as nossas lágrimas naquela triste tarde de uma despedida, que não teve
volta, nunca mais.
Fiz um infantil pedido ao meu pai: Que sentasse ao
lado da janela, no TREM, para que eu pudesse bater com a mão para ele, logo as
5 horas da manhã do outro dia, pois, do quintalzinho de nossa casa dava para
ver o trem passar todos os dias, uma vez que ficava à beira da Estrada de
Ferro, no km 9.
Ele, beijando-me novamente, e soluçando no seu choro
contido, me prometeu que bateria com a mão para mim.
Naquela distante, porém, inesquecível noite, não
dormi. E a minha mãe compreendia muito bem o meu desassossego de criança: Eu
era muito agarrado ao meu velho pai. Era o seu companheiro de trabalho no
Mercado Central, desde as 4 da manhã, diariamente, vendendo jornais, para
sobreviver com os demais irmãos, a maioria com menos idade que eu.
Tristezas e alegrias se juntaram quando ouvi a
buzina do TREM.
O Trem passou, eu não vi meu pai, e nunca mais ele não voltou!!
2 comentários:
Faço parte dessa História que a vida me ensinou a superar com os belíssimos exemplos de perseverança da minha mãe, a dedicação de meus irmãos no cuidado conosco e a busca constante por dias melhores, incentivando-me a buscar melhorias no meio viver, sendo útil ao meu próximo.
Esse comentário é de meu pai Roberto Cabral
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