Servidora da
Fazenda de SP cita 'mala de R$ 1 milhão' para juiz
Em depoimento à PF,
funcionária disse que 'processos com valores altos' iam para Élcio Fiori,
quando julgava recursos de empresas autuadas pelo Fisco; patrimônio dele é de
R$ 30 milhões.
Depoimento de uma servidora
administrativa da Secretaria da Fazenda de São Paulo revela que o juiz Élcio
Fiori Henriques, do Tribunal de Impostos e Taxas (TIT), teria recebido
"mala com R$ 1 milhão" no exercício de sua atividade como julgador de
recursos de empresas autuadas pelo Fisco. Silvânia Felippe declarou à Polícia
Federal, no âmbito da Operação Lava-Rápido - investigação sobre desvios de
processos fiscais - que um outro magistrado do TIT foi afastado por um juiz presidente
de Câmara "porque ele deu mala com R$ 1 milhão para o juiz fiscal
Fiori".
Silvânia, concursada de 1992,
declarou que "diversos processos bons com valores altos são direcionados
para Élcio Fiori, não sabe exatamente por que razão". Afirmou: "O
juiz presidente, ao julgar processos, dá provimento com a parceria de mais um
juiz, e outros dois negam provimento. Entretanto, como o juiz presidente pode
dar o voto de desempate, tudo já está acertado com empresários".
O relato da servidora foi feito em
novembro de 2012, quando estourou a Lava-Rápido, e reforça a suspeita que cerca
a origem da fortuna do magistrado. Em apenas 30 meses, de 4 de março de 2010 a
5 de outubro de 2012, Fiori - agente fiscal de rendas de carreira com
vencimento líquido de R$ 13,02 mil - construiu patrimônio de R$ 30,75 milhões.
Ele comprou, naquele período, 19 imóveis de alto padrão em áreas nobres de São
Paulo. Em cartório, declarou desembolso de R$ 15,28 milhões. Alcançou lucro a
realizar de R$ 15,46 milhões.
Todos os bens de Fiori - inclusive
aplicações financeiras de até R$ 3 milhões, sob penhora online - e de sua
empresa, JSK Serviços, Investimentos e Participações, constituída em maio de
2011, estão bloqueados por ordem da 9.º Vara da Fazenda Pública da Capital.
Os investigadores trabalham com a
hipótese de que o juiz conquistou seu tesouro recebendo propinas para anular ou
rever autos de infração aplicados a empresas por sonegação e irregularidades tributárias.
A Justiça mandou o TIT apresentar, em
dez dias, certidão sobre eventual existência de processos na Câmara Julgadora
de Fiori - 16.ª - tendo como partes os alienantes dos imóveis mencionados nos
autos. O cruzamento de dados poderá levar a empresas supostamente beneficiadas
pelo juiz. Investigadores apontam para "esquema de corrupção intolerável
no TIT" - o tribunal tem caráter administrativo, seus integrantes não são
da Justiça comum.
Outra testemunha, Cleiresmar Machado
- demitida da Fazenda por ligações com a quadrilha que encomendava o roubo de
autos fiscais -, afirmou à PF que Fiori "era destinatário de muitos
processos distribuídos". "Na maioria dos processos constava que
estava sendo convertido em diligência, ao invés de constar o resumo da decisão
proferida, a ementa".
Os investigadores suspeitam que a
manobra de converter o julgamento em diligência é usada para que as empresas
interessadas possam ganhar tempo e, provavelmente, concretizar a corrupção de
agentes públicos.
Quarteirão. Investigação aponta para
perfil "agressivo" do juiz. Quando chegou ao TIT residia em flat na
Rua Pamplona. Logo, mudou-se para apartamento de 350 metros quadrados na Rua
São Carlos do Pinhal, que declarou por R$ 510 mil na matrícula 115.871, do
Registro de Imóveis - o valor de mercado: R$ 2,7 milhões.
Para
reformar a moradia contratou o marceneiro José Alexandre Chamma, por R$ 180
mil. Chamma contou que não recebeu o total. Ao ser cobrado, o juiz avisou que
"não adiantava insistir porque tinha relações com desembargadores,
policiais, condição de acionar a polícia e cercar o quarteirão". "Vai
se f..., pode buscar seus direitos, vai ver o que vai te acontecer."
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Fonte: O Estado de São Paulo
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