quarta-feira, 25 de abril de 2018

Os Leões deixarão a Onça beber água?

O Maranhão é terra fértil para todo tipo de produção artística, também na área política. Este é um ambiente extremamente sensível, que mexe com o mais escondido segredo dos indivíduos,  que pode se ancorar, finalmente, no resultado que as urnas apresentem para um novo duelo, agora, para além dos cancelos das tribunas do judiciário eleitoral, onde os tímpanos, quase sempre, também são sensíveis, portanto, atentos e ávidos aos ensaios auriculares, que poderão render, após  as tempestades das rinhas do embate pelo poder, uma sinecura bem vantajosa.

Nessa ambiência de fertilidade, o grande semear e a espera de uma colheita satisfatória resultam de quem melhor souber arar o terreno do jogo, com os truques que se iniciam na montagem do arco do apoio partidário que buscará o adubo popular através do voto , ciente da geopolítica estadual, onde se incluem os grupos políticos do interior do estado, porque, aqui, está a balança de uma futura safra vitoriosa que virá a se juntar ao quadrante eleitoral da Ilha, que tem um significativo peso decisório na perspectiva de chegar [ou manter] os Leões se mirando no Espelho D'água do Palácio.

É visível o início do jogo pelo poder estadual. O atual comando do estado, sob a liderança do governador Flávio Dino, conseguiu manter quase todo o establishment que o tornou chefe do executivo maranhense, ampliando o leque  de  apoio e de sustentação política com a costura e a atração de alguns segmentos que, embora com perfis do ancien regime, sentiram que, se voltassem a compor o mesmo alinhamento de outrora, comprometeriam a reeleição de seus quadros, uma vez que conhecida a maneira como se decidem, em nível macro, os feudos de poder pelo grupo do Sr. José Sarney, notadamente, se a sua filha é a governadora, pois, se torna a rainha que fica a vê o seu rei cuidando da governança, ao sabor da arrogância bem conhecida e perfumada com o aroma dos charutos de Havana.

Pelas plagas sarneysistas também não deixou de chover, portanto, terreno próprio para alavancar uma boa produção eleitoral. Os mais obedientes e dependentes desse grupo político não se afastaram da  sombra do soba. E os recalcitrantes, se não retornaram diretamente ao restante do suspirar e do calor do colo do chefe, mas estão em satélites auxiliares, cujo controle se encontra nas mãos do   ex-senador, razão pela qual sua mudança de domicílio eleitoral para o Maranhão e, daí, ter consigo o comando de ex governadores, três senadores e outros tantos que se viram frustrados ao se mirarem no Espelho D'água dos Leões, e não puderam beber como imaginavam.

Mesmo sem contar com o seu principal cajado, um mandato parlamentar, o Sr. José Sarney, neste aprofundado cenário de crise nacional, conseguiu manter-se como influente político de mais de 50 anos de frequência nesses mesmos subterrâneos, inclusive, se distanciando das garras da Lava Jato, puxando consigo a filha ex-governadora. Com isso, possibilitou a nomeação de seu filho caçula para o Ministério do Meio Ambiente, mais uma vez, e também ingerir em outras nomeações na esfera federal.

O plantio estadual dos sarneysistas tem potencial frutífero-eleitoral, e deve preocupar, sim, o governador Flávio Dino, mas não em nível de desespero, afinal, o atual governo conta com muito boa avaliação de desempenho em favor do povo. Mas o Sarney quer fazer a Onça beber a água dos Leões, e não se importa com que métodos terão que ser usados para essa finalidade. Logo, a roça do Maranhão sempre foi feudal.

Por Petrônio Alves 
Advogado e Jornalista

Um comentário:

Unknown disse...

Texto muito bom, podemos dizer bem articulado, com o bom uso da palavra com é do feitio do Dr Petrônio Alves. Vejo dois pecados contextuais, "...período de governo com ínfimas características popular..." cometes aqui uma magnifica injustiça com os governos do PT. O outro pecado é omitir a ditadura militar como principal culpada pela falta da consciência crítica, mote do discurso, repito, do bem articulado discurso do amigo Petrônio. No mais excelente.

Enquanto houver Democracia, o Judiciário é a esperança

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